domingo, 26 de abril de 2009

O pacto -capítulo 12 - receita quente

Receita quente


Ao perdedor, as batatas, mas quem diria que os ganhadores também as têm?
As batatas foram escolhidas pois, foram as únicas que restaram da compra da semana no fundão da gaveta da geladeira quase vazia.
Junto delas, as companheiras e mais alegres na cor, as benditas cenouras que trazem um quê a mais de diversão a qualquer prato.
Saem batatas e cenouras do gavetão gelado e fica o vazio. Amanhã há de se dar aquela ida ao supermercado de novo. Amanhã não, que é sexta –feira e é dia de cerveja. Melhor deixar pro sábado e fica aí o programa agendado. Sábado que é dia de supermercado. Dia de sonho, dia de comprar algo diferente mais aquele vinho doce e quente pra mais tarde com os amigos ou com o amor desejado.
Descascar batatas e cenouras com rapidez. A fome aperta. Fome do final do dia que passou frio. Tudo já está combinado e quando chegar a hora estará tudocortado.
O frango. Bem o frango é outra história. Desta vez, só peito, sem pele que é pra não aumentar o colesterol. A vesícula também agradece. Gordura demais tem dado trabalho.
O azeite na panela é pouco, um filete jogado de modo meio descuidado, mas com a delicadeza de óleo bom. Sobe então, aquele cheiro de prazer.
O alho socado com sal é derrubado aos bocados. O cheiro rescende e reascende lembranças. Tempos bons de cheiros vespertinos em diferentes lares. Do branco que era vai se tornando dourado, o ponto certo do tesouro culinário.
Joga-se agora o frango em pedaços pra se alourar com o dourado alho. Vira pra cá, mexe pra lá. Paciência agora é o segredo. Pressa estraga tudo, vira coisa de doente.
Pronto, frango e louro e moreno na panela. Corta correndo o tomate que é pra certificar a coloração no caldo. Corta fino, corta quadrado, mas é bom não deixar de cuidar de lavar a casca antes de todo o processo.
É hora da água, das batatas e cenouras, das folhinhas de estragão e louro. Põe fervura nisto que vai ficar bom a beça!
Dois tempos depois, porque um tempo só é pouco pra cenoura amolecer. E aí está.
Tudo cozido, ao dente, como gostam os italianos. Agora é só colocar o arroz já pronto, mais prático e mais durinho que é pra sentir entre os dentes o intruso convidado.
A canja de inverno está pronta. Feita com mais que duas mãos.
Aos amigos querido, basta servir em potes de sopa, salpicar cebolinhas picadas, ao gosto do freguês, um queijinho ralado ou pimentinha pra acentuar.
Pra acompanhar, taças de vinho volumoso que desce carinhoso e traz sensações de delícia.
Melhor que isto tudo, mais a toalha nova, são os amigos compartilhando este momento. A cada colherada, a cada suspiro, um calor aquece o corpo, a alma, o coração...A ordem deste aquecimento não importa ou não dá pra ser notada.
Comemorar o primeiro dia de inverno do novo milênio é memorável.
Ter amor e amigos então, é para sempre!


Obs.:
Aos que como eu, sentem dó da pobre ave que não nasceu culpada de ave ser... a canja sem frango também funciona, porque o ingrediente maior é outro... é o bem querer!

sábado, 25 de abril de 2009

O pacto - capítulo 11 - voa...

Voa


Vôo no ar
Como pássaro em dias de chuva
A procura de recanto
Numa árvore perdida
Em meio a estiagem

Vôo através do tempo
Com o vento
Para o encontro
Do canto e da chuva e do tempo

Vôo
Ao vento

Encanto

Sentimento

quarta-feira, 22 de abril de 2009

O pacto - capítulo 10 - Impressões...



Carta 5


Ok. Eu capitulo em suas impressões...


Não se preocupe com sua amiga velha, acho que são coisas dos hormônios ou algo parecido com o peso da idade e as rugas que me aparecem no pescoço.

E digo “me aparecem” porque tenho a falsa sensação que eu é que tenho feito com que elas apareçam em meu corpo e que elas não tem vontade própria.

Ai esta minha mania de ser dona da situação! Mesmo com as rugas, imagine!

Mas, ainda quanto às tais rugas... até que engano bem o tempo da idade, mas no pescoço é lastimável, como realmente a gente envelhece na superfície !

Mas, olha não se preocupe. Hoje estou bem melhor do que no dia em que te escrevi. É coisa de mulher, coisa que dá e passa conforme os dias do ciclo, não se preocupe.

Mas, explicações eu ainda te devo, não é?

Bem, quanto ao que disse sobre as saudades...às vezes, acho mesmo que é melhor sentir saudade do que foi ruim. Por quê?

Porque eu acho que assim a gente logo vira a página e se lembra que os dias melhores são mesmo o que vivemos na atualidade, no presente.

Será que consegui me fazer entender?

Com o tempo, percebi que não suporto a idéia de ter saudades do que passou.

Das coisas boas que se passaram, pessoas , fatos, sentimentos, emoções.

Fica um vazio, um sei lá o quê, quando eu me deparo com tanta saudade.

Você já parou pra ter saudades, assim sem querer, da sua infância?

Sabe quando a gente sente, não sabe nem bem por que, o cheiro do cinema da praça em dia de domingo à tarde e se lembra como se estivesse mesmo assistindo novamente a um filme, ou da conversa e das risadas que viveu junto com seu amigo passando naquela esquina onde tinha o posto de gasolina quando voltavam do mesmo cinema?

Aquele mesmo cinema que virou agora estacionamento e aquela mesma esquina em que, depois do posto nada mais foi pra frente?

É duro, meu amigo.

Mais duro é se defrontar com o fato de que tudo é passado Passou e, na maioria das vezes a gente nem deu o valor devido.

Por isto, virei esta velha-nova que gosta de dizer para os filhos:

-Aproveitem bem esta alegria de hoje. Amanhã ela já será passado!


Mas, não é com o intuito negativista da situação, mas com o intuito único de lembrar a todos, inclusive a mim mesma que esta é a maior verdade de todas.

Por isto, se penso no que foi de ruim, aí logo volto novamente meus pensamentos ao presente e sigo em frente, sempre no presente, sempre no presente. Foi um subterfúgio que usei pra me enganar e me redirecionar e que tem dado um tanto certo.

Agora fico mais presente no presente sem xurumelas ou reclamações.

Besteiras e enganações de sua amiga. Veja bem que continuo a mesma.
Só umas rugas a mais, mas com sabedoria um pouco mais requintada e estratégica!

Mas, não se preocupe. Não estou mais pra baixo.

O seu colo via correio foi bastante suficiente pra eu me animar e me aninhar.

Portanto...

Um beijo porque hoje estou mais animadinha!

Obs.: eu também estou vendo mais graça no homem do correio andando pelas ruas, fantasio que sua carta está chegando.

Obrigada por sua amizade.

domingo, 12 de abril de 2009

O pacto, livro -capítulo 9 - Um presente

Um presente


Tenho pensado num presente,
o que dar pra alguém querido como você...
Pela manhã acordei e, abrindo meus olhos, percebi que o primeiro presente que gostaria de te dar era a capacidade de ter seus olhos bem abertos, não que com isto estivesse dizendo que os seus não o são, nada disto! É que,mesmo os meus que são grandões, na maioria das vezes não vêem o que realmente é importante...
Mas, o que seria importante?
Aí uma dúvida, um problema e não um presente.
Então, este primeiro presente acaba não valendo como tal, né?
Gostaria também de poder te dar o prazer de sentir o calor do sol em sua pele, este calor que nos faz lembrar que estamos vivos, ou então, a sensação do vento em seu rosto, aquele vento forte de outono, aquela brisa marota de verão, ou mesmo aquele vento cortante de inverno, todos eles que nos fazem sentir que a liberdade é um bem humano, mesmo que a liberdade seja um sopro em nossos pensamentos ainda limitados.
Um outro presente bom talvez fosse a sabedoria que poderíamos retirar da areia da praia ao pisarmos nela. A lembrança eterna que a cada passo, uma marca é feita e muitas desfeitas pela espuma do tempo.
A satisfação através da água, de bebê-la, de enti-la através dos pingos de chuva, o frescor do viver, a perpetuação das espécies, a purificação de um banho, o simples prazer na água.
A magnitude que a Lua Cheia nos traz sua grandeza sobre nosso mundo ...até a solidão que esta nos traz...a eterna confirmação de que estamos sós sempre...e que estamos sós sempre...e que devemos ser,nós mesmos, nossa melhor companhia e que esta companhia pode e é muito boa.
Muito mais poderia listar como presentes mas, aí , percebi que nada disto tem valor sem algo que, na verdade, é o mais importante e é o que nos faz perceber todo o resto à nossa volta... o amor...
Amor de verdade, sem compromisso, sem entrega e sem cobrança, aquele tal amor do Criador, coisa que o homem procura em várias religiões, seitas, fraternidades, filosofias, ciências e etc ( mesmo com toda a sua racionalidade de Homo sapiens, o próprio homem seria incapaz de pensar, sem amor ao próprio pensamento...).
Amor, aquele sentimento que a gente perde e ganha com a rapidez de segundos , mas que se for amor, persiste onde quer que estejamos, nos preenchendo e nos nutrindo e nos impulsionando com a vontade de compartilha-lo com com o próximo ao lado.
Amor, este sentimento que nos faz sentir ENORMES diante do mundo porque nos faz sentir que fazemos parte dele...
Sem amor, todo o resto nada valeria.
Sem amor, como seria?