sábado, 31 de janeiro de 2009

O pacto - continuação- capítulo 5- parte 2- .. tic tec...





continuação...





-Dá pra me explicar melhor? Não entendi. Como assim, tic-tec? Não sei.
- Olha é o seguinte, vinte e dois não é vinte, mas eu, quando ando faço este som irritante: tic –tec eu me sinto, não sei, um relógio despertador ambulante. Só falta a campainha das seis...
- O quê?
- É verdade. Repara só.
Aí, vejo a doida da minha amiga andando pra lá e pra cá... E não é que ela está mesmo certa? Quando anda faz tic-tec. Que engraçado! A turma tem que saber disto... Bom, mas primeiro eu tenho que ver se eu tamém não faço tic-tec porque, se fizer, eu nem vou tocar no assunto com ninguém porque eu não sou nada besta!
Alívio total. Não faço tic-tec.
-Ô, rapazinho, e aí? Você percebeu que eu faço tic-tec?
E agora? Ela é minha melhor amiga. A amiga melhor que tenho tido até aqui.A amiga que é minha e para sempre. Como vou dizer pra ela, assim na lata que ela faz tic-tec? E o pior é que este tipo de coisa não dá pra falar assim , sem preparo, sem um “agüenta – coração”...
-Então? Fala!
-Falar o quê?!
Dou uma enrolada bem na cara pra tentar fugir do inevitável, enquanto, em segundos, tento achar a solução do quadrado da hipotenusa.
-O que o quê?
-Ahn?
-Ai, criatura, dá pra falar, ou tá difícil?
É agora? Não posso mais com esta tensão se avolumando em minha mente. Preciso achar uma saída.
O que será a falsa verdade? Será traição? Preciso pensar. O que valerá mais?
A verdade ou um pequeno deslize da mesma? Se eu disse pra minha grande e amalucada amiga que ela faz , sim, tic-tec ao andar ela é capaz de começar a andar com meias nos pés e, obviamente , sem sapatos! Preciso pensar bem rápido.
-E aí? Tem alguém aí? Parece que você abandonou o corpo! Fala. Logo!
-Tá, não vale pressionar!
Assim, vou ganhando tempo, que esperto que eu sou. Vamos, pense cabecinha oca, o que faço agora? Acho que devo dizer que faz tic-tec, mas não faz, ou já digo que não faz tic-tec de uma vez por todas? Ou falo que faz tic-tec , mas é uma gracinha...
-Bem, Clau, não sei , não deu pra reparar direito, anda aí de novo.
Isto, que esperteza rara, caramba! Agora ganho mais tempo. A verdade, a meia verdade, a mentira de uma vez... Traição ou carinho redobrado? Não sei o que fazer. Ela é pra lá de importante pra mim e, não me sentiria bem em magoá-la, mas sei também que se disser... Tem que haver uma solução no meio do caminho. Uma verdade no meio da verdade.
Ela andou tic-tec pra lá e tic-tec pra cá. Foi e voltou na inocência dos ignorantes – sábios.
E eu ali, observando sua ignorância – sábia – exuberante sem saber o que responder.
- E, então?
-Bem , Clau...


continua...

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

O pacto - capítulo 5 - parte 2 - quando ainda não existia solidão...só tic-tec...

Tic – tec e outras decisões


- Pronto, tomei uma decisão!
Ih, lá vem ela com suas decisões... parece até que vive em final de ano inventando aquelas centenárias decisões de final de ano:
Ano que vem, não vou mais tomar refrigerante. Vou ser uma boa menina e vou tomar bastante água, uns quatro litros por dia, que é pra não criar mais celulite no meu culote, como tenho criado...
Lá vem ela com novas-velhas decisões, esta mulher é uma verdadeira pândega, diria meu pai, meu avô e toda aquela galera de antigamente!
-É sério, tomei uma decisão, ou várias, por sinal. Acho que todas, uma a uma, têm relação entre si.
-Tem certeza do que você está falando? Não é mais uma das suas loucurinhas, não?
-Olha, loucurinha é da sua avó, que está a dez palmos da superfície da terra e ainda deve insistir em ser sua avó!
Esta mulher não é fácil. Sou amigo desta peça rara há muito tempo, mas nem sei bem a razão pra durar tanto. Naqueles dias dela, aqueles dias que o tal Chico vem visitá-la então, é um inferno. Fica nervosa como o que e, não deixa a gente terminar uma frase sequer. É o sinal de que lá vem a sangueira:
-Olha, Clau, eu queria te dizer que...
- Não, veja bem, acho que seria melhor se a gente fizesse este trabalho amanhã porque hoje estou tão inspirada que poderia escrever um best-seller, não um trabalho de ciências.
-Mas, Clau, é que...
-Não, deixa disso. Acho muito bom a gente tomar aquele sorvete de creme lambendo bem rápido que é pra ver quem acaba primeiro. Quem acabar, sem deixar melar as mãos , paga o próximo!
-Clau, eu não...
- e vamos logo pra sorveteria, aquela lá da esquina com a Rua Onofre mesmo, que é mais gostoso o sorvete apesar de ser mais longe.
Impossível esta garota. Quando ela encasqueta que quer interromper a gente ela interrompe como, como, sei lá , nem sei como o quê. Só sei que ela é realmente uma parada!
-Bem, Clau, qual é afinal, a sua idéia magnífica?
-Olha, nem vem com gozação comigo, não, porque senão eu começo a falar com você na língua do P e nem vou te dar colher de chá , não vou traduzir nadica de nada.
-Nem torra! Não vem com esta palhaçada de peque pevo pecê pevai peca pecar pessa pepo!
-Nossa, não fica bravo também!Ó , até que você melhorou muito na língua do P, acho que daqui uns dez anos, poderemos começar a conversar e...
-E nada! Nem vem. Começa a desembuchar logo, senão eu desisto.
-Tá, mas primeiro eu preciso te perguntar uma coisa, posso?
- Pode.
-Lá vai : quando você anda faz tic-tec?
Ai, meu Santo Agostinho, o que está se passando com esta menina? Acho que agora deve ter surtado de vez!
continua...

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

O pacto - capítulo 5 -parte 1- entre cartas , a solidão...

Sem sentido


Sou o calor que
Ilumina
Sublima
Completa


Até que a realidade
Submeta


O Corpo
(em luta)
Foge da alma


A vida assim
Não tem sentido.


Escrevo para preencher a solidão.

domingo, 25 de janeiro de 2009

O pacto - capítulo 4 - carta 2, sou mais do tempo dos carteiros...

Carta 2

Oi, também.
Não foi assim que começou a sua missiva?
Achei graça. Você sempre com este jeito de irritadinha...
Sabe que não me incomodo com este seu jeito. Sinto falta até. Sabe também que tenho estado muito ocupado e, aliás, que história é esta de imaginar que me mudei?
Não me mudo daqui por nada deste mundo, mais porque não me livrei deste meu medo de mudanças... do que por falta de vontade.
Aqui anda meio apertado, eu, meus livros e Nicolau, o cachorro vira-lata que me escolheu na rua dia destes e não pude evitar...
Veja vem que até que mudei, melhorei e ando até mais compassivo e mesmo egoísta. O vira-lata me cheirou lá na banca da esquina, resolveu me seguir com aquele jeito molengão dos cães de rua, e quando cheguei eu e meu companheiro de caminhada... bem, não resisti àquele olhar pidão. Devia estar morrendo de fome.
Abri a porta e o cara-de-pau entrou na minha frente, como se eu fosse seu convidado. Achei muito desfaçatez dele, mas deixei, foi engraçado e, no final, ele é um cara e tanto, este Nicolau, e temos nos dado muito bem.
Poderia imaginar uma coisa destas acontecendo comigo? Eu e um cão vira-latas... veja que o mundo gira e a Lusitânia roda, mesmo!
Continuo o poste que disse...impávido, no mesmo lugar, mas realmente com mais furos do que gostaria... e você, a vida, os filhos, o marido, ( preciso perguntar dele?) e seu trabalho, como andam?
Escreva-me. Posso ser um safado na hora de responder,mas confesso , como nunca deveria, que gosto muito quando o carteiro chega com notícias...suas.
A modernidade nos pegou por completo, computador, e-mails, mensagens de tela em tela, sem dono, sem face, sem coração...
Confesso ( confissão 2) que eu ainda sou mais do tempo dos carteiros,era magia pura e, sou deste partido, irrestritamente. Gosto mesmo das cartas.
Dei uma pincelada.
Satisfeita?
Aposto que não.
Escreva.

Abraços bem apertados

eu

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

O pacto - capítulo 3 - a vida segue em bolos de fubá...



Bolo de fubá



fubá

bolo terno de mãe

tia
a cozinha recende
cheiros de amor
colo
cafuné
chás
caldos
mingaus
risos nos ares
vida cheia
olhos brilhantes
crianças pululantes
páginas e páginas
estórias
sonhos
o fogo crepita
a lareira
no carvão em brasas
a lembrança
tudo é perfeito
imperfeito é você
que me falta

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

O pacto -capítulo2 - Carta 1, pois a vida se dá em correspondências...


Carta 1


Oi.


Sei que é muito estranho começar uma carta tão, talvez, esperada com um “oi” , mas o que poderia dizer depois de tanto tempo?

Nem sei. Desfiar aquele rosário de desculpas que nunca justificam a ausência de notícias?
Não, não tenho mais idade pra isto, quando tinha lá meus quinze era meu jeito de dizer que sentia muito, mas agora não sinto mais, é a vida, não é?


Não escrevi porque não escrevi e você também não foi diferente com esta mania de se portar durão, como um velho poste de madeira, que insiste em ficar impávido , só que cheio de cupins...

Por que não me escreveu em vez de me esperar, novamente, dar o ar da graça?
Por que sempre eu?


O pior é que continuo, eu mesma, a amolecer e voltar a me corresponder com você, amigo velho, intenso , mas safado de preguiçoso...

Tudo bem. Resolvi ir ao ataque para não ser atacada. É por conta possivelmente do savoir faire que os anos acabam por nos ensinar...

Aqui tudo bem. Tudo normal, como dizem os mais novos. Acho que eles realmente não olham ao redor e seus espaços se restringem aos próprios umbigos,porque como dizer que tudo está normal com tanta confusão no mundo?

Dizer c’est la vie sempre foi pouco pra mim, você sabe.

E aí, como vai a vida? Reclamando ainda de tudo, como eu, ou já aprendeu a se acostumar com os arredores?

Eu, por exemplo, não me acostumei ainda com a idéia de vivermos tão longe um do outro.

Amigo que é amigo deveria ser obrigado a morar bem perto pra facilitar o contato, as idéias, os encontros, enfim. É por isto que acabo capitulando e escrevendo pra você, preguiçoso de duas figas, escrevo de tantas saudades, escrevo porque a vida é esta mesma, a que vivemos e neste corre-corre danado de chato a gente perde muita energia pra nada e por nada e a única coisa que resta são os amigos...

Pronto. Não escrevo mais nada.

Na verdade não sei se esta vai chegar ás suas mãos ...faz tanto tempo, será que você não mudou de lugar ainda?

Vou esperar pra ver se consigo resposta.

Um beijo carinhoso de sua amiga.

eu


quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

O PACTO capítulo 1 - Que nada mude

Que nada mude


-Que nada mude, Senhor.
Esta é Adélia, rezando sua ladainha de todas as tardes e todas as noites.
Adélia pede que nada mais mude em sua vida, que o Sol mantenha-se quente, a chuva molhada, o vento carinhoso e a Lua risonha, mesmo em noites sem luar.
Adélia roga que nada mude,mesmo que para isto, e por isto mesmo, ela não seja mais feliz, nem doce, nem dócil, nem amante, nem amada.
Adélia ora para que tudo se mantenha quieto, certo e quieto, os dias sendo dias e as noites sendo noites, que o seu mundo não se encha de lágrimas e dores, muito menos de risos e alegrias finitas.
Adélia sente dor e mesmo que esta seja doída é dor pouca perto da dor que a gente acha que não sente, pois esta sim é dor maior, que rói por dentro e assola os sonhos como se tudo fosse pesadelo e que por isto, nos faz querer dormir sem sonhos.
Adélia suplica que nada mude e nada retorne, que tudo se fixe na hora exata do não, do adeus e do até nunca mais, do cuide-se bem e do até logo, do quem sabe no ano que vem a gente se encontra pra falar do que não somos e do que nunca seremos ou do que nunca fomos, e do que um dia , quem sabe, saberemos.
Adélia ora com fervor, que nada mude e que sua decisão permaneça, de se manter fiel ao Senhor e a mais ninguém, de ser moça donzela, mas sem espera de mais marido pra atazanar suas noites insones ou suas horas quentes de tardes longas.
Adélia pede, roga e se transmuta em dor, mas pede com tanta força que sabe que se não for atendida por todos os anjos e santos de sua devoção que seja pelo menos atendida pelos que restarem de plantão à direita daquela nuvem teimosa de coelhos de orelhas enormes bem pertinho do elefante de dieta que fica à esquerda do algodão doce.
Alguém há de responder ao seu pedido.
Adélia reza pro Senhor, faz promessas, faz de tudo um pouco, desta vez com muito mais intenção que da outra, pois em algum tempo há de alcançar a graça tão indesejada de nunca mais vê-lo em sua casa, nunca mais olhar em seus olhos corredios e nunca mais se apertar naquele cangote cheiroso.
Adélia pede com força e dor, para que de tudo, nada mude, que nesta vida tudo se mantenha bem como Deus quis a vida inteira e que nada seja estorvo pra tanta harmonia benfazeja, nada mesmo, mesmo que este nada seja um belíssimo amor de estrada,destes amores que passam alumiando o caminho, mas não ficam, a deixando só com o ar e a vontade de ficar e com a incerteza assobiando na orelha.
- Que nada mude, Senhor.
Nada,nada mesmo, Adélia pede a certeza de que o vazio não seja mesmo preenchido, até que a dúvida assole mais uma vez a razão.

vida dragão...

Vida dragão

Já que a vida é um dragão que nos engole...
Já que nem tudo é ou nada é como se desejava aos 13
Já que o céu ainda é azul, apesar de tudo...

Então, só pelo azul,
Acho que devemos nos aproveitar da tinta,
Do papel
Das palavras
Das emoções
E trocar tudo .
Tudo isto.

Com quem goste disto tudo.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Apresentando O PACTO !

A urgência da comunicação se dá em muitos níveis e em velocidades diferentes.

O que vai surgir aqui é algo que escrevi há muito tempo e, confesso que será tão novo pra mim como para você, pois lerei novamente de acordo com as postagens até que cheguemos ao fim.

Espero conseguir me deter em possíveis correções pois, quero o desafio de me ler como fui um dia.

Lembro-me somente que este foi escrito aos poucos, feito colcha de retalhos, pois tudo fez sentido quando me pus a distribuir folhas escritas a mão ou impressas na minha antiga impressora na mesa da sala da minha irmã mais velha enquanto flocos de neve dançavam suas danças de salão no ar azul e cinza.

Ela me disse em repreensão: "só você pra trazer uma mala de papéis para Paris!"

Pois é, só eu mesma pra levar uma mala de papéis para Paris, isto acho que há uns 2 anos já ou 3, não sei , não sou boa com datas...

Mas, sei que tinha que ser com todos os papéis na mão, a la mode de antigamente mesmo.

como o tempo passa e a gente vai envelhecendo e ficando mais burra ou mais esperta, resolvi não esperar mais para colocar os tais papéis arranjados em livro na net para alguém ler, afinal, enviar para editoras, esperas intermináveis e respostas inimagináveis não são meu forte, sei porque estou nesta tentativa sem nem tentar deste então e sou mesmo destas sagitarianas impulsivas que não esperam quando têm uma idéia explodindo no coração.

Aqui começo então, O PACTO.

Que este pacto seja nosso até seu fim.