Carta 3
É claro que fez de propósito, óbvio que não fiquei nem um pouco satisfeita com sua economia de notícias e palavras, mas o que fazer de você, meu caro amigo impávido ( só pra te irritar mais um pouquinho...), se você é amigo meu há tantos anos que nem me lembro mais e se você é amigo exatamente por ser assim, deste jeitinho que é, amigo distante em matéria ,
mas presente em suposições emocionais...
O que eu quis dizer com isto?
Nem eu sei!
Lembra-se de quando brincávamos de bêbados
entornando litros e litros de água
na cozinha da minha casa?
Isto é que foi divertido nesta nossa vida em comum.
Brincar e sorrir com o imaginário, com a falsa realidade em que vivemos todos.
Tenho saudades e ter saudades dói muito quando a gente percebe isto de ter saudades,
queria ter saudades de coisas ruins,
olha que absurdo da sua velha amiga!
Se quiser explicações, depois eu explico,
assim, quem sabe fica curioso e
me escreve com mais rapidez?
A vida, a vida, a vida ela anda boa, mas às vezes tenho a impressão de que ela anda sozinha, esquece da gente lá pra trás, embaixo de qualquer árvore frondosa, ou abaixo de qualquer solzão escaldante.
Não sei, tenho a impressão
( novamente , desculpe-me a repetição) de que se a gente não pára de sonhar ou trabalhar demais e não sai correndo atrás da vida, ela é que larga mesmo a gente pra trás e quando a gente se apercebe , a vida já se foi , foi sei lá pra onde, mas foi, deixando a gente com cara de bobão pra trás.
Esta é minha maior sacada dos últimos tempos, achei até que, olhos a parte, foi a maior mesmo do que as sacadas belas e vitóriosas do Guga, menino caracol que sorri para o mundo com aqueles olhos apertados e sua boca rasgada.
Aliás, o que acha dele? Já parou pra pensar como é a vida, ou foi, deste astro dos esportes brasileiros? Fico pensando, olha aí eu pensando de novo, não perdi a mania, né? Mas, fico pensando em tantos Gugas que temos escondidos por aí, neste Brasilsão-de – meu Deus, onde tudo poderia acontecer de verdade,mas parecemos viver só das esperanças do verde bandeira.
Sabe, acredito na capacidade do povo ser feliz, não estar feliz ou esperar a felicidade de fora.
A gente é feliz e pronto, partindo deste princípio, menos que isto não teremos,que acha?
Voltando à vida, à minha, mais especificamente, minha vida anda boa, filhos crescendo, marido trabalhando contente, eu ainda me acertando na profissão, mas tudo bem, tudo conforme o esperado e é isto que me amedronta um pouco, a gente nunca está pronto pra viver como o esperado.
Fica uma sensação...
vazia...
Bem, deixa pra lá. Mais uma deixa pra você me escrever. Veja lá que aprendi com os anos a te deixar
curioso, não é?
Hoje não mando beijo,
mando abraço
porque me parece mais eterno.
Eu