quinta-feira, 19 de novembro de 2009

O pacto, livro na net - capítulo 23 - Rusga

Rusga




Fica a rusga do não dito
Esquecimento
Intenso
da
intensidade
Virada
do avesso
Desprezo
e
irrealidade
Mantidas sob custódia
Fica o não dito como rusga
Do passado em presente
Sou o rasgo e não a rusga
Quero a intensidade
Eleita na verdade
Da dor
Intensa
Vívida e vivida
Só.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

O pacto, livro na net - capítulo 22 - AZUL E BLUE...

Azul e blue

Entre vidas e a morte
Sagas e sorte
Corre o tempo
Sangue em veias
In vino veritas
Inícios,
reinícios
e
Fins
Finitos e perenes
Sofrimentos
Prazeres
E no meio desta balbúrdia
A paz.
Sinto e ressinto
Perdas e ganhos
Ganhos e perdas
Entre tuns e tás
Um, dois, três
Quantos corações houver
A vida é cheia deles
A morte se enche
Parem corações!
E a saudade?
Saudade é o sol
O calor
O céu lindamente acolhedor deste quase verão
Tudo é saudade
Preenchida de vida
Azul
e
Blue

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

O pacto, capítulo 21, divagações sobre um certo mar

Divagações sobre um certo mar...


O mar de Lya atiça o mar que levo em mim.
Meu mar tem remanso e tem preguiça.
Também meu mar tem turbulência de mar bravio e triste, cheio de contradições não assumidas, entre a vida que carrega em sua profundidade e a vida que é em sua superfície.
Toda a minha imensidão se confunde
com a imensidão deste meu mar,
que não é só água, é mar de mato também.
O sem-fim verde que surge e ressurge em mim, mesmo após queimadas, atiçadas nem sei bem por quem, muito menos por quais razões,
mas que me doem e me dizimam em segundos,
mas não me colocam fim.
Tenho pelo mar de Lya grande afeição pois, me trouxe de volta , a revolta do mar que tinha em mim, escondido sem estar, perdido em algum canto da minha emoção de viver assim, entre um mar de água, mato e fantasias e a seca realidade.
Peço ou imploro, se houver necessidade, que as águas sejam respeitadas, a minha inclusive e, principalmente, por que não? Porque tenho água e mato verde dentro do meu coração e, se para alguém isto não soe conhecido, que me importa?
Não me preocupam os que não têm também um mar, mas aqueles que o têm e o ignoram sem compaixão ou ressentimentos ou dor.
Agora me relato a você, outro mar em extensão e emoção: não ignore seu mar, mas também não viva só dele, porque eu vivo em meu mar e não sei mais viver sem ele.


Obs.: só pra que entenda,meu amigo, andei lendo “O mar de dentro” de Lya Luft.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

O pacto - capítulo 21 - Nada de trivialidades!

Carta 8

Minha cara amiga divagante, como vai?
Ainda está mergulhada em seus pensamentos ou foste à feira hoje?Ou melhor, vais à feira pensando em quê?
Não, estou de brincadeira. Talvez um pouco séria , mas estou.
Você é realmente uma pãndega! Como pode ser tão reflexiva assim?
Quero te dizer que também tenho gostado de escrever em cartas só o que me interessa.
Nada de trivialidades, nada de encher lingüiças.
As trivialidades enchem, é o que fazemos todos os dias, é delas que falamos com quem come e dorme conosco e isto é que enche,não é?
Por isto também me abstenho de dizer
estas futilidades pra você.
Por isto temos esta amizade duradoura.
Não nos gastamos com estas bobagens.
Mas, só porque fazemos parte das futilidades também, devo lhe dizer que tenho tido uma companheira, sim, além do cachorro Nicolau.
Fui escolhido por uma dama simpática, acho que você ia gostar de conhecê-la, isto já faz uns meses.
Como não acredito mais em casamentos, como você bem sabe, e acho que casamento é crise, o que me aborrece muito, nós estamos em fase de morar separados e continuaremos assim
ad perpetum ou enquanto durem as nossas paciências.
Definitivamente, não quero mais ter alguém que me prive de minhas coisas.
Gosto de ler jornal, deixar tudo espalhado pelo sofá da sala, ler durante o café e deixar as páginas de esportes cobrindo o pote de margarina.
Gosto de sair pra beber com os amigos, saídas só de homens pra falar muita besteira e não agüentaria mais mulher na minha cola, enchendo e me dando bronquinhas ou fazendo beicinho .
Desculpe-me o desabafo, mas amiga é pra isto. Não vivo mais com ninguém sob o mesmo teto.
Prefiro as morenas.
Mas durmo e babo nos meus travesseiros quase todas as noites e ninguém reclama comigo por isto.
Bem melhor assim!
Veja bem que à minha maneira também cheguei `a mesma conclusão que você chegou: vivemos melhor sozinhos com nós mesmos, tudo bem que vivo uma versão mais exagerada disto...
Não sou tão poético como você, mas tenho chegado aos mesmos resultados, ou quase!
Falando em poesia, ainda tem escrito seus escritinhos?
Mande-me alguns, quero ver como vai minha amiga escritora.
Lembre-se, escreva porque só assim você eterniza seus momentos...

Um abraço e minha solidão pra você.

Eu

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

O pacto - capítulo 20 - Decreto da teimosia

Decreto da teimosia





Até que a chuva pare de cair

E

Enquanto o sol ainda se esconde atrás das nuvens...

A fim de que a noite seja
estrelada e fria

já que não tenho como evitar que seja também solitária

Continuo a teimar em ser feliz

Por puro prazer...

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

O pacto - capítulo 20 - Farta

Farta

Hoje andei o bastante neste ar de sol,
na luz de inverno
Senti saudade
e uma certa confusão
entre o dia e a noite
Entre o bem e o mal
( isto existe?)

Entre a calmaria dentro da tempestade
e a tempestade de uma calmaria

Entre estar e não ser

Hoje andei o bastante para não me bastar

O vagante andar não me basta mais

Talvez um caminho
( que ainda não sei ao certo)
Me bastaria

Chego ao quase fim do dia
Farta!

sábado, 25 de julho de 2009

O pacto, capítulo 19 - Volta de São Bento

Volta de São Bento



Volto na estrada batida

Pensamento trotando cavalos arredios

Lentas almas

Silencioso pasto

Vacas encravadas na terra

Como pedras preciosas

Nada além da curva do rio

Curva brilhante beijando a estrada

Além

O Verde amansado em curvas

Redondas curvas

Macias

Aconchegantes curvas

Como curvas de mulher

Que abre braços e alma

Mansa de amor

quarta-feira, 15 de julho de 2009

O pacto - capítulo 18 - na ausência

Na ausência




Em minha ausência :


Sou o rebuliço da terra
Em dia ventoso

A dor da unha arrancada

Onda perdida em alto mar

Louco vagueando na estrada

Náusea em estômago vazio

Cólica sangrenta do aborto da alma

Eu preciso de mim

Inteira

De volta

Às voltas

De mim.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

O pacto , capítulo 17 - nostalgia

Nostalgia


Hoje

A nostalgia do frio
e
Do fogo

Do perto
E
do distante

do presente
e
do passado

saudade é frio nas juntas
que faz doer todo o inverno.



( Perdão: ainda tropeço
nestas minhas armadilhas )

sábado, 11 de julho de 2009

O pacto, capítulo 16 - Inveja febril

Inveja febril


Deito adentrando minhas pernas com cuidado o túnel de cobertas e, sinto, já de longe, o calor febril daquele corpo alongado que se fez dentro de mim há mais de treze anos.

A gata transita curiosa pela casa, arregalando seus olhos esverdeados e, por vezes, vindo até ao meu quarto, miando por atenção enquanto tentamos , minha filha e eu, dormir numa cama destinada a um casal.

Recoloco a toalha molhada em sua testa e, por segundos, tenho inveja de sua febre.

Queria eu ter um calor bem forte, febre mesmo, daquelas brabas, pra ver se delirava mais um pouco e saía de vez desta realidade insana destes dias atuais.

Queria estar com sua febre, não por dó nem piedade pelo corpo doído e quente, mas por mim mesma.
Inveja febril e egoísta mesmo e daí?

Meu corpo fervendo, desta vez de febre, doendo em todos os ossos, e não doendo dores de alma partida.

Febre, dor no corpo, ardor nos olhos e carinho , muito carinho e agrado que, então, só isto bastaria pra sarar uma metade de mim.

A vontade de ter uma toalha fria na testa e um calor dos infernos no corpo é o que me sustenta nesta noite quente de desejos e lua cheia.

domingo, 28 de junho de 2009

O pacto - capítulo 15 - carta 7


Carta 7

Tenho achado graça nesta história de escrever cartas, é como se estivéssemos mais próximos passando essência de um e de outro, uma troca de perfumes, mas , ao mesmo tempo, não sabemos o que um ou outro está fazendo da vida, coisas diárias, trabalhos, ocupações, etc.
Mas, sabe o que é mais engraçado disto tudo?

É que realmente não me importo com o que você tem feito da vida, nem tampouco tem me importado te falar sobre cordialidades do dia - a – dia, as feiras livres, os supermercados da vida, contas, patrões, empregados.
Com nossas cartas estou percebendo que tudo isto não passa de um tudo isto meio fútil, meio necessário, mas que pela nossa amizade podemos perfeitamente pular, nos abster disto tudo.
Temos, com os anos, e sempre tivemos, esta ligação de amizade que diz mais que qualquer chatice de dia que passamos, um atrás do outro, como qualquer mortal.
Você vive estes tempos sozinho, me refiro à uma companheira fixa que até aonde sei, não teve mais depois daquela uma , que não cito o nome pra não haver constrangimentos...
Eu vivo sozinha também. Rodeada de filhos e marido e trabalho, mas percebo que todos nós, eles também que vivem sob o mesmo teto que eu, vivemos todos sós.
Nascemos, vivemos e morremos sós.

Todas as possíveis passagens que sofremos, o modo que sofremos sempre singular a nós mesmos...tudo isto..sós.
É isto que tem me dado forças pra viver melhor o que acho importante para mim mesma.

Respeitando limites e territórios, mas o viver só, assumidamente, está sendo menos pesado.
Antes, eu esperava muito de tudo. Não sabia como me controlar.
Sabe, a gente cobra dos outros respostas, reações , coisas que, de verdade mesmo, nós é que temos as respostas. O que falta é não ter orgulho, nem vergonha, é "conversar consigo mesmo", ter paz de espírito, mas que fácil falar , hein?
Desculpe, estou aqui eu divagando de novo!
Mas, continuo adorando nossas trocas de perfumes. A vida tem tido mais perfumes depois de tudo.
E, você? Como vai a vida? Já que disse que não me importo, melhor perguntar, quem sabe não quer falar? Pensei agora que posso ter sido grosseira em ignorar...


E, ó, só pra você não ficar se achando, não são só suas cartas que tem me ensina sobre a essência, também a novidade de meditar tem me ensinado muito sobre tudo isto.



Um só abraço


eu


terça-feira, 19 de maio de 2009

O pacto - capítulo 14 - quando souber, eu aviso!

Relâmpago


Vivo pensando nela, se realmente a sinto e quando a sinto.
Penso que, por refletir demais, talvez faça com que ela me abandone mais do que gostaria.

Queria merecê-la mais e, de tanto querê-la não a tenho o quanto gostaria.

Na verdade, sei que não é questão de merecimento direto e, sim de esquecimento. Para sentí-la basta se esquecer dela que ela vem faceira em nosso ser.

Felicidade é assim pra mim.
É feita de momentos pequeninos tão pequenos que muitas vezes a sentimos e não percebemos.

Não é um período, não é um mês, hora, minuto.

É o segundo sentido.
É um segundo que passa correndo e que se perde logo após.
Aí está o seu tempero, sua graça.

Grande felicidade eu sinto quando me percebo desprendida, despretensiosa.
Minhas grandes felicidades passam e acontecem assim, neste tempo pequeno e também por pequenas coisas.

Não me refiro a coisas pequenas e, sim, a pequenas coisas que, em verdade são as que têm importância.

Então, minha felicidade se define num copo de limonada gelada em pleno verão, na alegria de um filho, num olhar de mar, numa flor do jardim que se abre, no beija-flor que vem visitar a flor que abriu, na companhia de um amigo, na troca de livros, na troca de cumplicidades, na árvore que plantei e que vejo crescer e me dar os limões da minha limonada de verão, na lua cheia, no vento de inverno no meu rosto, no cheiro de chuva e tantos outros segundos sentidos.

Então , felicidade é isto.

Uma pequena grandiosidade que levo dentro de mim.
Algo que sinto como o céu sente o relâmpago.
Um estado de ser e não de estar porque quando o céu recebe o relâmpago ele é relâmpago naquele instante.

Eu sou feliz, isto quando me permito ser feliz...

Confesso que os momentos têm sido mais freqüentes, acho que estou conseguindo perceber um pouco melhor o caminho do ser e ser feliz...

Ainda acho, quando tiver certeza, aviso!

sexta-feira, 8 de maio de 2009

O pacto - capítulo 13 - carta 6 - pensando demais...

Carta 6


Amiga velha?
Que história é esta??
Está de volta aos bons tempos de querer confetes??
Preciso primeiro pedir desculpas pelo tanto tempo que deve ter esperado notícias desta vez. É que acabei relaxando já que você estava mehorzinha.
Você é engraçada, continua a mesma amiga reflexiva e aí eu penso:
“Será ela que pensa demais ou eu que penso de menos?”
Vou ser machista. Acho que isto é coisa de homem, não pensar, agir mais e pensar de menos.
Tem sido bom assim mesmo. Viver a vida na ação,ocupado, sempre ocupado com o trabalho,
Mas, quando você vem com suas reflexões, aí é que me lembro também que não devo ter pensado nada nestes últimos ..dez anos, pelo menos!
Não é exagero , não.
É mania.
Mania de não pensar porque se eu penso eu sofro, ou quero mudar coisas que já considero imutáveis e aí sofro mais ainda. Não sei sonhar refletindo como você.
Sei é lembrar de coisas engraçadas passadas com amigos e amigas como você.
Lembrei, não sei por que, daquela vez que fui te visitar no interior. Eu estava com a minha moto e resolvemos dar um passeio num bairro distante, que aliás, agora é o mesmo em que você mora, coisas da vida?Estas coisas dão arrepio na gente, não é?
Voltando ao passeio, fomos passear num lugar meio ermo e resolvi ir com a moto ao largo da pista de trem desativada, íamos rindo e conversando sobre o sol, o vento , estas coisas, quando de repente, dei de cara com um fio de ferro atravessando nosso caminho, daqueles fios que vem de um poste para o chão, de modo inclinado.
Você se lembra da nossa derrapada?
Quase você foi decapitada pelo fio!
Eu abaixei a cabeça e você também, bem em tempo. Derrapamos, a moto se inclinou e não caímos. Só rimos muito do perigo.
Ô idade boa esta de rir do perigo, né?
Pois, é , agora não penso nos perigos da vida porque não sei somente rir com eles, eles me deixam pra baixo, fico sem reação, então, pra reagir melhor, não penso, ajo!
Mas, mesmo assim fico na dúvida.
Quem viverá a vida melhor, eu ou você?
Ou pior, nenhum de nós...
Só sei que temos tentado viver que já é o bastante e aprender... o que é louvável !
O meu novo companheiro manda um au-au pra você.
Até a próxima! Continue.
Estou gostando de parar pra pensar e dividir, ou melhor, compartilhar, como você prefere dizer...


eu

domingo, 26 de abril de 2009

O pacto -capítulo 12 - receita quente

Receita quente


Ao perdedor, as batatas, mas quem diria que os ganhadores também as têm?
As batatas foram escolhidas pois, foram as únicas que restaram da compra da semana no fundão da gaveta da geladeira quase vazia.
Junto delas, as companheiras e mais alegres na cor, as benditas cenouras que trazem um quê a mais de diversão a qualquer prato.
Saem batatas e cenouras do gavetão gelado e fica o vazio. Amanhã há de se dar aquela ida ao supermercado de novo. Amanhã não, que é sexta –feira e é dia de cerveja. Melhor deixar pro sábado e fica aí o programa agendado. Sábado que é dia de supermercado. Dia de sonho, dia de comprar algo diferente mais aquele vinho doce e quente pra mais tarde com os amigos ou com o amor desejado.
Descascar batatas e cenouras com rapidez. A fome aperta. Fome do final do dia que passou frio. Tudo já está combinado e quando chegar a hora estará tudocortado.
O frango. Bem o frango é outra história. Desta vez, só peito, sem pele que é pra não aumentar o colesterol. A vesícula também agradece. Gordura demais tem dado trabalho.
O azeite na panela é pouco, um filete jogado de modo meio descuidado, mas com a delicadeza de óleo bom. Sobe então, aquele cheiro de prazer.
O alho socado com sal é derrubado aos bocados. O cheiro rescende e reascende lembranças. Tempos bons de cheiros vespertinos em diferentes lares. Do branco que era vai se tornando dourado, o ponto certo do tesouro culinário.
Joga-se agora o frango em pedaços pra se alourar com o dourado alho. Vira pra cá, mexe pra lá. Paciência agora é o segredo. Pressa estraga tudo, vira coisa de doente.
Pronto, frango e louro e moreno na panela. Corta correndo o tomate que é pra certificar a coloração no caldo. Corta fino, corta quadrado, mas é bom não deixar de cuidar de lavar a casca antes de todo o processo.
É hora da água, das batatas e cenouras, das folhinhas de estragão e louro. Põe fervura nisto que vai ficar bom a beça!
Dois tempos depois, porque um tempo só é pouco pra cenoura amolecer. E aí está.
Tudo cozido, ao dente, como gostam os italianos. Agora é só colocar o arroz já pronto, mais prático e mais durinho que é pra sentir entre os dentes o intruso convidado.
A canja de inverno está pronta. Feita com mais que duas mãos.
Aos amigos querido, basta servir em potes de sopa, salpicar cebolinhas picadas, ao gosto do freguês, um queijinho ralado ou pimentinha pra acentuar.
Pra acompanhar, taças de vinho volumoso que desce carinhoso e traz sensações de delícia.
Melhor que isto tudo, mais a toalha nova, são os amigos compartilhando este momento. A cada colherada, a cada suspiro, um calor aquece o corpo, a alma, o coração...A ordem deste aquecimento não importa ou não dá pra ser notada.
Comemorar o primeiro dia de inverno do novo milênio é memorável.
Ter amor e amigos então, é para sempre!


Obs.:
Aos que como eu, sentem dó da pobre ave que não nasceu culpada de ave ser... a canja sem frango também funciona, porque o ingrediente maior é outro... é o bem querer!

sábado, 25 de abril de 2009

O pacto - capítulo 11 - voa...

Voa


Vôo no ar
Como pássaro em dias de chuva
A procura de recanto
Numa árvore perdida
Em meio a estiagem

Vôo através do tempo
Com o vento
Para o encontro
Do canto e da chuva e do tempo

Vôo
Ao vento

Encanto

Sentimento

quarta-feira, 22 de abril de 2009

O pacto - capítulo 10 - Impressões...



Carta 5


Ok. Eu capitulo em suas impressões...


Não se preocupe com sua amiga velha, acho que são coisas dos hormônios ou algo parecido com o peso da idade e as rugas que me aparecem no pescoço.

E digo “me aparecem” porque tenho a falsa sensação que eu é que tenho feito com que elas apareçam em meu corpo e que elas não tem vontade própria.

Ai esta minha mania de ser dona da situação! Mesmo com as rugas, imagine!

Mas, ainda quanto às tais rugas... até que engano bem o tempo da idade, mas no pescoço é lastimável, como realmente a gente envelhece na superfície !

Mas, olha não se preocupe. Hoje estou bem melhor do que no dia em que te escrevi. É coisa de mulher, coisa que dá e passa conforme os dias do ciclo, não se preocupe.

Mas, explicações eu ainda te devo, não é?

Bem, quanto ao que disse sobre as saudades...às vezes, acho mesmo que é melhor sentir saudade do que foi ruim. Por quê?

Porque eu acho que assim a gente logo vira a página e se lembra que os dias melhores são mesmo o que vivemos na atualidade, no presente.

Será que consegui me fazer entender?

Com o tempo, percebi que não suporto a idéia de ter saudades do que passou.

Das coisas boas que se passaram, pessoas , fatos, sentimentos, emoções.

Fica um vazio, um sei lá o quê, quando eu me deparo com tanta saudade.

Você já parou pra ter saudades, assim sem querer, da sua infância?

Sabe quando a gente sente, não sabe nem bem por que, o cheiro do cinema da praça em dia de domingo à tarde e se lembra como se estivesse mesmo assistindo novamente a um filme, ou da conversa e das risadas que viveu junto com seu amigo passando naquela esquina onde tinha o posto de gasolina quando voltavam do mesmo cinema?

Aquele mesmo cinema que virou agora estacionamento e aquela mesma esquina em que, depois do posto nada mais foi pra frente?

É duro, meu amigo.

Mais duro é se defrontar com o fato de que tudo é passado Passou e, na maioria das vezes a gente nem deu o valor devido.

Por isto, virei esta velha-nova que gosta de dizer para os filhos:

-Aproveitem bem esta alegria de hoje. Amanhã ela já será passado!


Mas, não é com o intuito negativista da situação, mas com o intuito único de lembrar a todos, inclusive a mim mesma que esta é a maior verdade de todas.

Por isto, se penso no que foi de ruim, aí logo volto novamente meus pensamentos ao presente e sigo em frente, sempre no presente, sempre no presente. Foi um subterfúgio que usei pra me enganar e me redirecionar e que tem dado um tanto certo.

Agora fico mais presente no presente sem xurumelas ou reclamações.

Besteiras e enganações de sua amiga. Veja bem que continuo a mesma.
Só umas rugas a mais, mas com sabedoria um pouco mais requintada e estratégica!

Mas, não se preocupe. Não estou mais pra baixo.

O seu colo via correio foi bastante suficiente pra eu me animar e me aninhar.

Portanto...

Um beijo porque hoje estou mais animadinha!

Obs.: eu também estou vendo mais graça no homem do correio andando pelas ruas, fantasio que sua carta está chegando.

Obrigada por sua amizade.

domingo, 12 de abril de 2009

O pacto, livro -capítulo 9 - Um presente

Um presente


Tenho pensado num presente,
o que dar pra alguém querido como você...
Pela manhã acordei e, abrindo meus olhos, percebi que o primeiro presente que gostaria de te dar era a capacidade de ter seus olhos bem abertos, não que com isto estivesse dizendo que os seus não o são, nada disto! É que,mesmo os meus que são grandões, na maioria das vezes não vêem o que realmente é importante...
Mas, o que seria importante?
Aí uma dúvida, um problema e não um presente.
Então, este primeiro presente acaba não valendo como tal, né?
Gostaria também de poder te dar o prazer de sentir o calor do sol em sua pele, este calor que nos faz lembrar que estamos vivos, ou então, a sensação do vento em seu rosto, aquele vento forte de outono, aquela brisa marota de verão, ou mesmo aquele vento cortante de inverno, todos eles que nos fazem sentir que a liberdade é um bem humano, mesmo que a liberdade seja um sopro em nossos pensamentos ainda limitados.
Um outro presente bom talvez fosse a sabedoria que poderíamos retirar da areia da praia ao pisarmos nela. A lembrança eterna que a cada passo, uma marca é feita e muitas desfeitas pela espuma do tempo.
A satisfação através da água, de bebê-la, de enti-la através dos pingos de chuva, o frescor do viver, a perpetuação das espécies, a purificação de um banho, o simples prazer na água.
A magnitude que a Lua Cheia nos traz sua grandeza sobre nosso mundo ...até a solidão que esta nos traz...a eterna confirmação de que estamos sós sempre...e que estamos sós sempre...e que devemos ser,nós mesmos, nossa melhor companhia e que esta companhia pode e é muito boa.
Muito mais poderia listar como presentes mas, aí , percebi que nada disto tem valor sem algo que, na verdade, é o mais importante e é o que nos faz perceber todo o resto à nossa volta... o amor...
Amor de verdade, sem compromisso, sem entrega e sem cobrança, aquele tal amor do Criador, coisa que o homem procura em várias religiões, seitas, fraternidades, filosofias, ciências e etc ( mesmo com toda a sua racionalidade de Homo sapiens, o próprio homem seria incapaz de pensar, sem amor ao próprio pensamento...).
Amor, aquele sentimento que a gente perde e ganha com a rapidez de segundos , mas que se for amor, persiste onde quer que estejamos, nos preenchendo e nos nutrindo e nos impulsionando com a vontade de compartilha-lo com com o próximo ao lado.
Amor, este sentimento que nos faz sentir ENORMES diante do mundo porque nos faz sentir que fazemos parte dele...
Sem amor, todo o resto nada valeria.
Sem amor, como seria?

domingo, 22 de março de 2009

O pacto, capítulo 8 - impressões e colo amigo...

Carta 4

Esta história de correio e cartas está me dando nova vida, sabia?
Agora sim, dá emoção chegar e pegar as correspondências. Antes, eram só contas, e quantas, ou aquelas propagandas de bancos ou seguros, ou carros ou cartões de crédito, e sei lá quantas propagandas... Sei que não abro nenhuma. Propaganda tem cara de propaganda e também sei que quem trabalha com isto faz estudos e mais estudos pra conseguir que o seu folder seja aberto e lido pelo consumidor. Acho que ainda não chegaram a algo que funcione comigo, a curiosidade, nestes casos específicos, não foi nunca o meu forte.
Mas, em outras situações, eu sou bastante curioso, principalmente em situações em que você está incluída ou envolvida , melhor dizendo.
Você deve estar feliz, rindo com seus botões, como diziam os antigos, porque conseguiu seu intento, escrevi esta mais rápido do que um raio caindo no mar, mas não se iluda, foi só uma pequena colher de chá de amigo velho pra faze-la sorrir, não se acostume mal, não posso faze-la sorrir sempre, já sabe das minhas limitações.
Bem, voltando ao fio da sua meada. Qual é esta história estapafúrdia de querer ter saudades de coisas ruins? Não entendi , pode fazer o favor de me explicar na próxima leva de palavras?
Outra coisa que fiquei no ar: fiquei com a impressão , que foi o tema de sua última carta, me senti obrigado a repetir...tive a impressão de que você estava um quê impressionada, com a vida, meio talvez, pra baixo?
O que foi, minha amiga, você que sempre foi tão positiva, sorridente e amalucada de tanta esperança que passava em seus gestos e palavras? O que foi que te aconteceu, minha amada amiga, não sei dizer, mas ler suas palavras assim, tão impressionadas com a vida, me trouxeram aquela vontade antiga de te pegar nos braços pra te dar colo...
Sabe bem como eu gostava de fazer isto com você. Eu gostava de me iludir de que eu era mais forte dos dois e que, só eu poderia te dar o alento pra continuar seguindo em frente, depois de suas brigas em casa, chutes na bunda que levava de namorados bundões,porque só bundões te abandonaram, você lembra que eu te dizia isto?
Esta é a impressão que ficou em mim. Minha velha amiga está precisando de colo de amigo. Estamos distantes, impossibilitados para tanto, mas sinta-se aqui em meu colo, sinta o meu abraço e se explique.
Estou ávido de suas explicações.
Um colo.

Eu

O pacto, livro na net, Capítulo 7-entre essências, leite,o tempo e muito mais...


Conta de leite e essência de canela


Chegou mais uma conta de leite. Parece que ultimamente, as contas têm chegado mais rápido. Não sei se isto é um bom sinal ou não. O tempo está correndo e o que me faz perceber é o papel branco cheio de números em cima da geladeira me fazendo lembrar que terei , de novo, que pagar o leite.
Penso que isto demonstra uma mesmice terrível. Pior que isto, talvez seja ouvir do marido que, depois de ir na casa de uns amigos, se lembrou de nossa sala e me disse:
-Tô cansado desta decoração. Por mim,mudava tudo.
Ouço e penso:
-Está cansado só da decoração ou de mim junto com o sofá usado e o outro conjunto desbotado?
Parece uma loucura, mas tem gente que ainda chega em casa e a acha, uma casa aconchegante. Onde estará esta sensação pro dono dela?
Isto tudo fará parte de um stress permanente ao qual estamos atrelados nestes tempos de muitas dívidas e pouca grana ou será coisa pior?
-Há quem entre aqui e ache uma casa de boneca, uma casa acolhedora.
-Mas, quem será este ou esta louca?
Enquanto isto, o tempo passa e mais uma conta vindo do leiteiro chega. É definitivamente uma casa de família. Até conta de leite tem.
Volto até àquela mesma sala que ele está cheio e coloco essência no abatjour, essência de canela que recende pela casa e pelos meus pensamentos.
Acho tão gostosa esta sala à noite, tão romântica, mas estou só nestes sonhos, a sala é só uma sala. O sofá imenso e velho está lá no mesmo lugar, pois não cabe em outro canto. O outro, que já foi desbotado pelo sol do litoral continua na mesma posição. A essência abraça o ar com sua sutileza. Sei que quando ele chegar nem vai se importar ou perceber. Penso:
-pra que mudar? e tudo tão gostoso e perfeito ...






Egoísmo


Divido os pratos
As risadas infantis
As flores
Os bons cheiros na cozinha
O vinho do vinho
O canto dos pássaros
As verdolengas montanhas...

Agora,
O egoísmo , deixa que seja só meu.
É isto que me sobra.


Entre o que inspiro
E expiro
Existe um segundo
Íntimo
Um ponto no universo
Que é só da minha propriedade

Entre o que inspiro
E expiro
Está a minha dor

E esta dor é só minha.




A reforma


Conversas profundas
Por aqui não tenho mais


Digo tijolos
Sifões
Tanques
Telhas


Sufoco meus ais
Entre cimentos e testeiras
Melancólicas massas corridas
Pisos
Revestimentos

Janelas com bandeiras
Acenam
Antes que me perca
Entre blocos de vidros
E tijolos vazados

Conversas profundas
Por aqui não tenho mais




Inseto


Sou


Mais além
Ouço sua voz distante

Assuntos corredios

Respostas triviais

Sextas noturnas

Somos
Sós

Questões percorrem velozes
Nossos silêncios

Compondo teias

Sinto-me inseto.

Linha rompida


Memória capenga
Passos curtos
Tropeço em cadarços
Desatados
Sujos
Da lama em que piso
Morro acima
Esqueço a exatidão do momento
Do sim tornado não
Do amor reduzido


Inata infância
Nada inocente
Intacta
Memória falha
Momentos longínquos
Bonecas, bailinhos...

Memória falha
Dias
Noites
Contas
Trabalho
Compras
Filhos
Gatas
Jardim
Horta
Cão
Onde tudo se encaixava
Concluo a ilusão
Improvável felicidade
Entre linhas
Linhas
Linhas
Podre linha
rompida




Bipartida



Bipartida
Noite longa que se torna dia
Sigo de olhos abertos,
Sonhos torcidos entre cobertas
O ar estagnado não se compadece
Deste meu desejo descontrolado
De me repartir em dois
Entre cacos, retalhos
Fragmentos de mim
Sorvo o tempo
Aguardo a solução
Anseio por perdão
Não pude partir.


quarta-feira, 4 de março de 2009

O pacto, capítulo 6 - carta 3 - abraço porque é mais eterno...

Carta 3



É claro que fez de propósito, óbvio que não fiquei nem um pouco satisfeita com sua economia de notícias e palavras, mas o que fazer de você, meu caro amigo impávido ( só pra te irritar mais um pouquinho...), se você é amigo meu há tantos anos que nem me lembro mais e se você é amigo exatamente por ser assim, deste jeitinho que é, amigo distante em matéria ,
mas presente em suposições emocionais...


O que eu quis dizer com isto?

Nem eu sei!

Lembra-se de quando brincávamos de bêbados
entornando litros e litros de água
na cozinha da minha casa?
Isto é que foi divertido nesta nossa vida em comum.

Brincar e sorrir com o imaginário, com a falsa realidade em que vivemos todos.
Tenho saudades e ter saudades dói muito quando a gente percebe isto de ter saudades,
queria ter saudades de coisas ruins,
olha que absurdo da sua velha amiga!
Se quiser explicações, depois eu explico,
assim, quem sabe fica curioso e
me escreve com mais rapidez?

A vida, a vida, a vida ela anda boa, mas às vezes tenho a impressão de que ela anda sozinha, esquece da gente lá pra trás, embaixo de qualquer árvore frondosa, ou abaixo de qualquer solzão escaldante.
Não sei, tenho a impressão
( novamente , desculpe-me a repetição) de que se a gente não pára de sonhar ou trabalhar demais e não sai correndo atrás da vida, ela é que larga mesmo a gente pra trás e quando a gente se apercebe , a vida já se foi , foi sei lá pra onde, mas foi, deixando a gente com cara de bobão pra trás.
Esta é minha maior sacada dos últimos tempos, achei até que, olhos a parte, foi a maior mesmo do que as sacadas belas e vitóriosas do Guga, menino caracol que sorri para o mundo com aqueles olhos apertados e sua boca rasgada.
Aliás, o que acha dele? Já parou pra pensar como é a vida, ou foi, deste astro dos esportes brasileiros? Fico pensando, olha aí eu pensando de novo, não perdi a mania, né? Mas, fico pensando em tantos Gugas que temos escondidos por aí, neste Brasilsão-de – meu Deus, onde tudo poderia acontecer de verdade,mas parecemos viver só das esperanças do verde bandeira.
Sabe, acredito na capacidade do povo ser feliz, não estar feliz ou esperar a felicidade de fora.

A gente é feliz e pronto, partindo deste princípio, menos que isto não teremos,que acha?
Voltando à vida, à minha, mais especificamente, minha vida anda boa, filhos crescendo, marido trabalhando contente, eu ainda me acertando na profissão, mas tudo bem, tudo conforme o esperado e é isto que me amedronta um pouco, a gente nunca está pronto pra viver como o esperado.
Fica uma sensação...
vazia...
Bem, deixa pra lá. Mais uma deixa pra você me escrever. Veja lá que aprendi com os anos a te deixar
curioso, não é?
Hoje não mando beijo,
mando abraço
porque me parece mais eterno.

Eu

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

O pacto, capítulo 5- parte 2 continuação ..tic-tec...



-Fala!
-Bem, Clau, você... realmente faz um tic –tec quando anda (pronto falei!)
-O quê? Fala sério! Se não posso contar com você, com quem posso contar?


Óbvio! Elementar e humano! Falei a verdade na lata e ela não acreditou. Ponto pra mim.

-Tá, só tava brincando pra ver sua reação.
-Você e que tá me confundindo, responde logo que já estou ficando aflita!
- Imagina, não faz tic-tec nenhum. Mas... Você tá é ficando com uma anca!
-Ei, pára com isto! Que história é esta? Você é amigo, mas não te dei estas liberdades, hein?!
-Mas, é verdade, ué! Não queria a verdade?

Pelo menos metade dela. A parte da anca é muito verdadeira, pensei sorrindo de satisfação comigo mesmo.

-Tá. Resolvido isto, vou direto ao assunto: sabe que andei pensando e...

Ela andou pensando e fazendo tic-tec ao mesmo tempo...
(não consegui conter minha ironia pensante)

-E aí, aonde chegou?
- Não, é sério! Sabe, pensei pelo caminho que o coração da gente vive meio bagunçado. Bem, pelo menos o meu, né?
-Vai, prossegue com o raciocínio, quero ver aonde vai dar!
-Então, meu coração é tão anárquico que me lembrou de uma coisa.

É a minha deixa:

-O quê?
-Ué? Não está conseguindo perseguir este meu pensamento lógico?

Ai, meu Deus!
Como ela pode exaltar a lógica sendo ela uma mulher?
Ela só está me confundindo mais!

-Não consegui chegar ao seu alvo. O que é , afinal?
-Bem, tão anárquico como o meu coração é meu armário!
-Ah, tá. E daí?
-Bem, e daí que resolvi arrumar meu armário. Selecionar as roupas,dar algumas, consertar outras, colocar as amassadas para serem passadas.
-Ahn...
-E, também, vou fazer embalagens com roupas de inverno e as colocarei lá em cima do armário, pra não ocuparem espaço das roupas de verão. Assim, tudo fica mais folgado, fica mais fácil eu visualizar o que tenho. Tudo fica mais ao alcance.
-Ahn...
-O que acha? Só de tirar esta conclusão estou eufórica. Acho que agora tudo vai se desenrolar melhor. Vou conseguir saber do meu espaço. Vou ficar sabendo o que tenho, o que é meu, o que gosto e o que eu não gosto. O que não cai bem em mim, vou começar a descartar...
-Ahn...
-E , você? Não fala nada? Não acha que foi uma bela decisão
-Ah, foi...

Bem, aqui entre nós. Eu não acredito que este armário da Clau consiga permanecer mais que um dia tão arrumado, mas o que eu, reles ser masculino posso contrapor à tão amalucada metáfora? O que posso eu dizer?
Mulheres, sempre as mulheres. !
Tão românticas, tão cheias de esperança, tão credoras de que simples atos mudarão seus mundos.
Acreditam mesmo que um dia tudo vai dar certo!
O mais incrível é que na maioria das vezes a gente acaba percebendo que,não sei bem por qual magia, pois parece mesmo magia, elas acabam tendo razão...

-É. Clau. Foi realmente uma bela decisão!

O que me resta dizer?
A verdade, a mentira ou o meio do caminho entre as duas? A verdade tem muitas faces, tic-tec é uma delas.



sábado, 31 de janeiro de 2009

O pacto - continuação- capítulo 5- parte 2- .. tic tec...





continuação...





-Dá pra me explicar melhor? Não entendi. Como assim, tic-tec? Não sei.
- Olha é o seguinte, vinte e dois não é vinte, mas eu, quando ando faço este som irritante: tic –tec eu me sinto, não sei, um relógio despertador ambulante. Só falta a campainha das seis...
- O quê?
- É verdade. Repara só.
Aí, vejo a doida da minha amiga andando pra lá e pra cá... E não é que ela está mesmo certa? Quando anda faz tic-tec. Que engraçado! A turma tem que saber disto... Bom, mas primeiro eu tenho que ver se eu tamém não faço tic-tec porque, se fizer, eu nem vou tocar no assunto com ninguém porque eu não sou nada besta!
Alívio total. Não faço tic-tec.
-Ô, rapazinho, e aí? Você percebeu que eu faço tic-tec?
E agora? Ela é minha melhor amiga. A amiga melhor que tenho tido até aqui.A amiga que é minha e para sempre. Como vou dizer pra ela, assim na lata que ela faz tic-tec? E o pior é que este tipo de coisa não dá pra falar assim , sem preparo, sem um “agüenta – coração”...
-Então? Fala!
-Falar o quê?!
Dou uma enrolada bem na cara pra tentar fugir do inevitável, enquanto, em segundos, tento achar a solução do quadrado da hipotenusa.
-O que o quê?
-Ahn?
-Ai, criatura, dá pra falar, ou tá difícil?
É agora? Não posso mais com esta tensão se avolumando em minha mente. Preciso achar uma saída.
O que será a falsa verdade? Será traição? Preciso pensar. O que valerá mais?
A verdade ou um pequeno deslize da mesma? Se eu disse pra minha grande e amalucada amiga que ela faz , sim, tic-tec ao andar ela é capaz de começar a andar com meias nos pés e, obviamente , sem sapatos! Preciso pensar bem rápido.
-E aí? Tem alguém aí? Parece que você abandonou o corpo! Fala. Logo!
-Tá, não vale pressionar!
Assim, vou ganhando tempo, que esperto que eu sou. Vamos, pense cabecinha oca, o que faço agora? Acho que devo dizer que faz tic-tec, mas não faz, ou já digo que não faz tic-tec de uma vez por todas? Ou falo que faz tic-tec , mas é uma gracinha...
-Bem, Clau, não sei , não deu pra reparar direito, anda aí de novo.
Isto, que esperteza rara, caramba! Agora ganho mais tempo. A verdade, a meia verdade, a mentira de uma vez... Traição ou carinho redobrado? Não sei o que fazer. Ela é pra lá de importante pra mim e, não me sentiria bem em magoá-la, mas sei também que se disser... Tem que haver uma solução no meio do caminho. Uma verdade no meio da verdade.
Ela andou tic-tec pra lá e tic-tec pra cá. Foi e voltou na inocência dos ignorantes – sábios.
E eu ali, observando sua ignorância – sábia – exuberante sem saber o que responder.
- E, então?
-Bem , Clau...


continua...

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

O pacto - capítulo 5 - parte 2 - quando ainda não existia solidão...só tic-tec...

Tic – tec e outras decisões


- Pronto, tomei uma decisão!
Ih, lá vem ela com suas decisões... parece até que vive em final de ano inventando aquelas centenárias decisões de final de ano:
Ano que vem, não vou mais tomar refrigerante. Vou ser uma boa menina e vou tomar bastante água, uns quatro litros por dia, que é pra não criar mais celulite no meu culote, como tenho criado...
Lá vem ela com novas-velhas decisões, esta mulher é uma verdadeira pândega, diria meu pai, meu avô e toda aquela galera de antigamente!
-É sério, tomei uma decisão, ou várias, por sinal. Acho que todas, uma a uma, têm relação entre si.
-Tem certeza do que você está falando? Não é mais uma das suas loucurinhas, não?
-Olha, loucurinha é da sua avó, que está a dez palmos da superfície da terra e ainda deve insistir em ser sua avó!
Esta mulher não é fácil. Sou amigo desta peça rara há muito tempo, mas nem sei bem a razão pra durar tanto. Naqueles dias dela, aqueles dias que o tal Chico vem visitá-la então, é um inferno. Fica nervosa como o que e, não deixa a gente terminar uma frase sequer. É o sinal de que lá vem a sangueira:
-Olha, Clau, eu queria te dizer que...
- Não, veja bem, acho que seria melhor se a gente fizesse este trabalho amanhã porque hoje estou tão inspirada que poderia escrever um best-seller, não um trabalho de ciências.
-Mas, Clau, é que...
-Não, deixa disso. Acho muito bom a gente tomar aquele sorvete de creme lambendo bem rápido que é pra ver quem acaba primeiro. Quem acabar, sem deixar melar as mãos , paga o próximo!
-Clau, eu não...
- e vamos logo pra sorveteria, aquela lá da esquina com a Rua Onofre mesmo, que é mais gostoso o sorvete apesar de ser mais longe.
Impossível esta garota. Quando ela encasqueta que quer interromper a gente ela interrompe como, como, sei lá , nem sei como o quê. Só sei que ela é realmente uma parada!
-Bem, Clau, qual é afinal, a sua idéia magnífica?
-Olha, nem vem com gozação comigo, não, porque senão eu começo a falar com você na língua do P e nem vou te dar colher de chá , não vou traduzir nadica de nada.
-Nem torra! Não vem com esta palhaçada de peque pevo pecê pevai peca pecar pessa pepo!
-Nossa, não fica bravo também!Ó , até que você melhorou muito na língua do P, acho que daqui uns dez anos, poderemos começar a conversar e...
-E nada! Nem vem. Começa a desembuchar logo, senão eu desisto.
-Tá, mas primeiro eu preciso te perguntar uma coisa, posso?
- Pode.
-Lá vai : quando você anda faz tic-tec?
Ai, meu Santo Agostinho, o que está se passando com esta menina? Acho que agora deve ter surtado de vez!
continua...

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

O pacto - capítulo 5 -parte 1- entre cartas , a solidão...

Sem sentido


Sou o calor que
Ilumina
Sublima
Completa


Até que a realidade
Submeta


O Corpo
(em luta)
Foge da alma


A vida assim
Não tem sentido.


Escrevo para preencher a solidão.

domingo, 25 de janeiro de 2009

O pacto - capítulo 4 - carta 2, sou mais do tempo dos carteiros...

Carta 2

Oi, também.
Não foi assim que começou a sua missiva?
Achei graça. Você sempre com este jeito de irritadinha...
Sabe que não me incomodo com este seu jeito. Sinto falta até. Sabe também que tenho estado muito ocupado e, aliás, que história é esta de imaginar que me mudei?
Não me mudo daqui por nada deste mundo, mais porque não me livrei deste meu medo de mudanças... do que por falta de vontade.
Aqui anda meio apertado, eu, meus livros e Nicolau, o cachorro vira-lata que me escolheu na rua dia destes e não pude evitar...
Veja vem que até que mudei, melhorei e ando até mais compassivo e mesmo egoísta. O vira-lata me cheirou lá na banca da esquina, resolveu me seguir com aquele jeito molengão dos cães de rua, e quando cheguei eu e meu companheiro de caminhada... bem, não resisti àquele olhar pidão. Devia estar morrendo de fome.
Abri a porta e o cara-de-pau entrou na minha frente, como se eu fosse seu convidado. Achei muito desfaçatez dele, mas deixei, foi engraçado e, no final, ele é um cara e tanto, este Nicolau, e temos nos dado muito bem.
Poderia imaginar uma coisa destas acontecendo comigo? Eu e um cão vira-latas... veja que o mundo gira e a Lusitânia roda, mesmo!
Continuo o poste que disse...impávido, no mesmo lugar, mas realmente com mais furos do que gostaria... e você, a vida, os filhos, o marido, ( preciso perguntar dele?) e seu trabalho, como andam?
Escreva-me. Posso ser um safado na hora de responder,mas confesso , como nunca deveria, que gosto muito quando o carteiro chega com notícias...suas.
A modernidade nos pegou por completo, computador, e-mails, mensagens de tela em tela, sem dono, sem face, sem coração...
Confesso ( confissão 2) que eu ainda sou mais do tempo dos carteiros,era magia pura e, sou deste partido, irrestritamente. Gosto mesmo das cartas.
Dei uma pincelada.
Satisfeita?
Aposto que não.
Escreva.

Abraços bem apertados

eu

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

O pacto - capítulo 3 - a vida segue em bolos de fubá...



Bolo de fubá



fubá

bolo terno de mãe

tia
a cozinha recende
cheiros de amor
colo
cafuné
chás
caldos
mingaus
risos nos ares
vida cheia
olhos brilhantes
crianças pululantes
páginas e páginas
estórias
sonhos
o fogo crepita
a lareira
no carvão em brasas
a lembrança
tudo é perfeito
imperfeito é você
que me falta

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

O pacto -capítulo2 - Carta 1, pois a vida se dá em correspondências...


Carta 1


Oi.


Sei que é muito estranho começar uma carta tão, talvez, esperada com um “oi” , mas o que poderia dizer depois de tanto tempo?

Nem sei. Desfiar aquele rosário de desculpas que nunca justificam a ausência de notícias?
Não, não tenho mais idade pra isto, quando tinha lá meus quinze era meu jeito de dizer que sentia muito, mas agora não sinto mais, é a vida, não é?


Não escrevi porque não escrevi e você também não foi diferente com esta mania de se portar durão, como um velho poste de madeira, que insiste em ficar impávido , só que cheio de cupins...

Por que não me escreveu em vez de me esperar, novamente, dar o ar da graça?
Por que sempre eu?


O pior é que continuo, eu mesma, a amolecer e voltar a me corresponder com você, amigo velho, intenso , mas safado de preguiçoso...

Tudo bem. Resolvi ir ao ataque para não ser atacada. É por conta possivelmente do savoir faire que os anos acabam por nos ensinar...

Aqui tudo bem. Tudo normal, como dizem os mais novos. Acho que eles realmente não olham ao redor e seus espaços se restringem aos próprios umbigos,porque como dizer que tudo está normal com tanta confusão no mundo?

Dizer c’est la vie sempre foi pouco pra mim, você sabe.

E aí, como vai a vida? Reclamando ainda de tudo, como eu, ou já aprendeu a se acostumar com os arredores?

Eu, por exemplo, não me acostumei ainda com a idéia de vivermos tão longe um do outro.

Amigo que é amigo deveria ser obrigado a morar bem perto pra facilitar o contato, as idéias, os encontros, enfim. É por isto que acabo capitulando e escrevendo pra você, preguiçoso de duas figas, escrevo de tantas saudades, escrevo porque a vida é esta mesma, a que vivemos e neste corre-corre danado de chato a gente perde muita energia pra nada e por nada e a única coisa que resta são os amigos...

Pronto. Não escrevo mais nada.

Na verdade não sei se esta vai chegar ás suas mãos ...faz tanto tempo, será que você não mudou de lugar ainda?

Vou esperar pra ver se consigo resposta.

Um beijo carinhoso de sua amiga.

eu


quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

O PACTO capítulo 1 - Que nada mude

Que nada mude


-Que nada mude, Senhor.
Esta é Adélia, rezando sua ladainha de todas as tardes e todas as noites.
Adélia pede que nada mais mude em sua vida, que o Sol mantenha-se quente, a chuva molhada, o vento carinhoso e a Lua risonha, mesmo em noites sem luar.
Adélia roga que nada mude,mesmo que para isto, e por isto mesmo, ela não seja mais feliz, nem doce, nem dócil, nem amante, nem amada.
Adélia ora para que tudo se mantenha quieto, certo e quieto, os dias sendo dias e as noites sendo noites, que o seu mundo não se encha de lágrimas e dores, muito menos de risos e alegrias finitas.
Adélia sente dor e mesmo que esta seja doída é dor pouca perto da dor que a gente acha que não sente, pois esta sim é dor maior, que rói por dentro e assola os sonhos como se tudo fosse pesadelo e que por isto, nos faz querer dormir sem sonhos.
Adélia suplica que nada mude e nada retorne, que tudo se fixe na hora exata do não, do adeus e do até nunca mais, do cuide-se bem e do até logo, do quem sabe no ano que vem a gente se encontra pra falar do que não somos e do que nunca seremos ou do que nunca fomos, e do que um dia , quem sabe, saberemos.
Adélia ora com fervor, que nada mude e que sua decisão permaneça, de se manter fiel ao Senhor e a mais ninguém, de ser moça donzela, mas sem espera de mais marido pra atazanar suas noites insones ou suas horas quentes de tardes longas.
Adélia pede, roga e se transmuta em dor, mas pede com tanta força que sabe que se não for atendida por todos os anjos e santos de sua devoção que seja pelo menos atendida pelos que restarem de plantão à direita daquela nuvem teimosa de coelhos de orelhas enormes bem pertinho do elefante de dieta que fica à esquerda do algodão doce.
Alguém há de responder ao seu pedido.
Adélia reza pro Senhor, faz promessas, faz de tudo um pouco, desta vez com muito mais intenção que da outra, pois em algum tempo há de alcançar a graça tão indesejada de nunca mais vê-lo em sua casa, nunca mais olhar em seus olhos corredios e nunca mais se apertar naquele cangote cheiroso.
Adélia pede com força e dor, para que de tudo, nada mude, que nesta vida tudo se mantenha bem como Deus quis a vida inteira e que nada seja estorvo pra tanta harmonia benfazeja, nada mesmo, mesmo que este nada seja um belíssimo amor de estrada,destes amores que passam alumiando o caminho, mas não ficam, a deixando só com o ar e a vontade de ficar e com a incerteza assobiando na orelha.
- Que nada mude, Senhor.
Nada,nada mesmo, Adélia pede a certeza de que o vazio não seja mesmo preenchido, até que a dúvida assole mais uma vez a razão.

vida dragão...

Vida dragão

Já que a vida é um dragão que nos engole...
Já que nem tudo é ou nada é como se desejava aos 13
Já que o céu ainda é azul, apesar de tudo...

Então, só pelo azul,
Acho que devemos nos aproveitar da tinta,
Do papel
Das palavras
Das emoções
E trocar tudo .
Tudo isto.

Com quem goste disto tudo.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Apresentando O PACTO !

A urgência da comunicação se dá em muitos níveis e em velocidades diferentes.

O que vai surgir aqui é algo que escrevi há muito tempo e, confesso que será tão novo pra mim como para você, pois lerei novamente de acordo com as postagens até que cheguemos ao fim.

Espero conseguir me deter em possíveis correções pois, quero o desafio de me ler como fui um dia.

Lembro-me somente que este foi escrito aos poucos, feito colcha de retalhos, pois tudo fez sentido quando me pus a distribuir folhas escritas a mão ou impressas na minha antiga impressora na mesa da sala da minha irmã mais velha enquanto flocos de neve dançavam suas danças de salão no ar azul e cinza.

Ela me disse em repreensão: "só você pra trazer uma mala de papéis para Paris!"

Pois é, só eu mesma pra levar uma mala de papéis para Paris, isto acho que há uns 2 anos já ou 3, não sei , não sou boa com datas...

Mas, sei que tinha que ser com todos os papéis na mão, a la mode de antigamente mesmo.

como o tempo passa e a gente vai envelhecendo e ficando mais burra ou mais esperta, resolvi não esperar mais para colocar os tais papéis arranjados em livro na net para alguém ler, afinal, enviar para editoras, esperas intermináveis e respostas inimagináveis não são meu forte, sei porque estou nesta tentativa sem nem tentar deste então e sou mesmo destas sagitarianas impulsivas que não esperam quando têm uma idéia explodindo no coração.

Aqui começo então, O PACTO.

Que este pacto seja nosso até seu fim.